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100 anos de Nosferatu | O Corpo no Terror Expressionista

Nosferatu, de F.W Murnau, representa a marca macabra do expressionismo no corpo.



Até gosto de O Gabinete de Dr. Caligari, mas acredito que Nosferatu alcança um lugar ainda além do filme de Robert Wiene, Isso, especialmente, por conta do "realismo expressionista" que Murnau imprime em seu filme. Embora Caligari seja a expressão máxima do movimento alemão, Nosferatu não abandona o expressionismo: porém, eleva este a uma categoria gráfica que somente o cinema é capaz de alcançar. O filme de Murnau pauta muito do seu terror na materialização visual dos horrores da praga, do temível vampiro, de toda a mitologia macabra que ronda seu universo.


O corpo humano é objeto de exploração gráfica absoluta: tanto os gestos exagerados e a atuação expansiva que dá ênfase no corpo paralisado pelo medo, em histeria diante da morte, ferido pelo aterrorizante Nosferatu; como também em seu próprio vilão, que é tão assustador pois sua fisionomia é tão bizarra quanto seus poderes: a maquiagem pesada, o corpo alto e estranhamente magro, a cabeça sem cabelos e com uma estrutura quase aparentemente deformada, os olhos esbugalhados, tudo no corpo do vilão é o que carrega o terror de sua figura.



Assim, o realismo nos espaços do filme adotado pelo diretor nada mais é do que a concretização desse horror visual, que ganha ao mostrar o mundo em sua essência, porém, distorcido. Assim, ao contrário de "O Gabinete do Dr. Caligari", não é um cenário de papel pintado, mas as próprias coisas do mundo que são distorcidas em torno do expressionismo que é, sobretudo, a concretização do horror gráfico, corporal, primitivo.


Os planos do filme, inclusive, dentro de sua lógica expressionista, carregam uma beleza singular a partir do macabro (como, por exemplo, a belíssima cena em que Ellen espera por seu amado na praia, cercada por cruzes fincadas na areia). Tudo no filme, por mais que não tão evidentemente manipulado e torcido quanto os elementos da obra marcante de Robert Wiene, está inserido numa aura gótica, fúnebre e arrepiante.


Até mesmo as cartelas com narração encaixam-se na ideia de construir uma mitologia macabra - muito mais do que apenas descrever o que a imagem já é capaz de nos mostrar com muita eficiência - que mais tarde será materializada na tela, seja pelas marcas de ataques do vampiro no corpo, pela fisionomia do vilão, pelas reações corporais expansivas dos atores ou pela montagem a partir da organização interna da luz (contrastada) e das coisas do mundo no plano.


 

Para mais críticas, artigos, listas e outros conteúdos de cinema fique ligado na Cine-Stylo, a coluna de cinema da Singular.



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