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Inocente Mordida (1992)

Filme de John Landis tem momentos de brilho, mas as indecisões em como trabalhar as motivações das personagens e do que fazer com o miolo da história prejudicam o resultado final



Depois de ter dirigido, ainda nos anos 80, o maravilhoso “Um Lobisomem Americano em Londres”, John Landis tentou trazer a realidade daquela narrativa para os anos 90, mas nos Estados Unidos, e com vampiros substituindo lobisomens. Logo de cara, dá para perceber que as principais características de uma de suas mais icônicas obras também estão presentes em “Inocente Mordida”, como a descontração e o hibridismo de gêneros, mas o tom não gera o mesmo impacto, e nem a mesma sensação de euforia em quem assiste ao filme.


Para cada ataque vampiresco brutal e inesperado no literal calar da noite (jumpscare é o que não falta), Landis emenda sacadinhas em formas de comentários excessivamente sinceros, um tipo particular de humor que trabalha com a incredulidade das situações. Para isso, insere, no centro de momentos cruciais de tomada de decisão na trama, em circunstâncias de risco, ídolos e amigos da indústria e do cinema de horror (de Tom Savini à Frank Oz, que já flertou com a fantasia, passando por Sam Raimi e Dario Argento), em participações curtas, o que culmina em um tom referencial de camaradagem.



Ele também faz suas personagens assistirem a trechos inteiros de clássicos do gênero, como “Drácula”, com Bela Lugosi, e “Pacto Sinistro”, de Alfred Hitchcock, enquanto exercem seu trabalho ou alguma outra atividade, como quem quisesse dizer que o acaso é sempre programado, e é ele, enquanto diretor, quem controla esse cenário construindo momentos de tensão, que efetivamente assustam, dividindo tempo de tela com tiração de sarro.


Se o filme se resumisse apenas a esse mashup de descrições de dois parágrafos, seria perfeito, mas, estruturalmente, é uma bagunça, e não daquelas que são fruto de experimentações ousadas, mas sim de uma vontade de se manter em uma zona de segurança de blockbuster sessão da tarde que acaba anulando toda uma possível excitação que poderia surgir do encontro com o novo, o inusitado.


Tenta ser um grande hit épico, cheio de pompa e pretensão, mas esbarra nos próprios defeitos, tão aparentes. A protagonista é muito pouco aproveitada de acordo com o potencial que demonstrava no início da história e, de todo o núcleo da máfia, tão valorizado, Landis poderia trabalhar apenas com os atores que mais aparecem (Robert Loggia dá um show).



Senti falta do contraponto da polícia, também. Luis Guzmán, como de costume, muito mal aproveitado por Hollywood, subjugado a papeis de menor relevância, tendo seu campo de atuação reduzido à perpetuação de clichês, e Angela Bassett, sempre uma boa escolha, ofuscada por outros colegas de trabalho. Tudo bem que é uma participação pequena, mas eu acho que ela merecia mais.


Em alguns momentos me lembra “A Hora do Espanto”, principalmente quando os marmanjos da trama resolvem curtir a vida de vampiro com aparições em casas noturnas, tentando esbanjar charme, mas repelindo as pessoas, até de um jeito cômico e caricato.


Nota do crítico:


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