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Street Style, hip hop e visibilidade

Do Bronx à Paris. Como o Hip Hop ganhou asas através da moda e se tornou uma das principais tendências nas passarelas da alta costura.

Vendo que o Hip Hop engloba música, ambiente, modo de falar, agir, pensar e, até mesmo, o modo de se vestir, pode-se concluir que ele é um dos movimentos culturais contemporâneos de maior relevância. Cria dos guetos nova-iorquinos, ele nasce com o objetivo de dar voz à uma população e, desde então, tanto através de artistas renomados quanto cidadãos comuns que procuram uma estética urbana com dinamismo, fluidez e conforto, ele se faz presente no cenário atual. Um estilo que não retrata somente moda, mas também a valorização de grandes nomes do movimento negro.


Mesclando aspectos da cultura africana, caribenha e latina, entre as décadas de 70 e 80 eclodia em Nova Iorque, principalmente nos bairros do Bronx e Brooklyn, o estilo do Hip Hop. Em um ambiente repleto de violência urbana e alta criminalidade, os jovens viam na arte um abrigo. Grafite, música e dança são só algumas das categorias que levaram à fundação da ONG Zulu Nation, focada em promover essa nova cultura e retirar os jovens do ecossistema tóxico.

No entanto, foi em 1988, com o disco "Straight Outta Compton" do grupo N.W.A, que o estilo ganhou fama internacional. Desde então, com a ascensão de artistas como Dr. Dre, Snoop Dogg e Jay-Z, ele tomou o globo.


Dessa forma, desde os anos 70 o estilo vem se desenvolvendo e refletindo sem si próprio parte da cultura e história que deseja contar. Assim, o vestuário se tornou um requisito fundamental, traçando tendências com elementos de "streetwear" e representando a essência urbana e cultural de cada comunidade com uma forte influência de uma série de fatores.


Questões geográficas, políticas, comportamentais e até religiosas integram essa construção de estilo que, acompanhando o Hip Hop nas suas muitas manifestações, inovou o uso de diversas peças como: moletons, camisetas e calças largas, tênis, joias (como corrente de ouro), logomania, recriação de peças de luxo e até mesmo os famosos bucket hats.



O Hip Hop não só trouxe grandes referências musicais e culturais, como também ajudou muitas marcas a se consolidarem e conquistarem sua popularidade, principalmente com a adesão das marcas pelos ídolos dos anos 70, 80 e 90. O grupo Run-DMC difundiu amplamente a marca Adidas com peças que são populares até os dias atuais.

O conjunto Adidas A-15 e o modelo Superstar, tanto de lona quanto de couro, são os mais vistos e consumidos pelo mercado mundial da moda. Os tênis, muito recorrentes deste estilo, possibilitaram a fundação de marcas como Vans e Supreme (1994), cobiçadas, inclusive, nos dias de hoje. O estilo de caráter esportivo, deu a oportunidade até mesmo de Michael Jordan lançar a linha Air Jordan em parceria com a Nike, que também, se mantém nos pés dos jogadores, skatistas e até mesmo em modelos nos editoriais de moda.


Além de trazer voz para músicos de guetos, o estilo trouxe voz a grandes nomes conhecidos pela moda, como os designers Karl Kani e Dapper Dan. A primeira linha lançada no movimento do Hip Hop foi em 1989. Feita por Kani, surgiu no observar dos homens negros que, curiosamente, não compravam calças jeans justas e sim tamanhos maiores. Deste modo, as calças ficavam caídas, haja vista que as cinturas eram maiores. Assim, desenvolveu uma linha que possui calças mais largas e que permanecem no lugar. Já Dapper customizava o couro de bolsas com monogramas de grifes de luxo, como Louis Vuitton, Gucci e Versace.

Em seu ateliê, proporcionava uma customização própria das linhas de grife aos consumidores negros, algo que a ostentação das maisons não permitiam à eles. Na época, ele teve de lidar com as consequências de suas criações se apropriarem dos logos de marcas famosas, tendo assim, seu ateliê fechado. A reviravolta é que, atualmente, seu ateliê está aberto e tem parceria com a Gucci. Logo após Alessandro Michele se inspirar em umas de suas criações, fazendo com as grifes passarem a olhar a cultura afro-americana.


Já nos dias atuais, marcas como Balenciaga e Maison Margiela, são vistas no vestuário de rappers como Young Thug e Travis Scott, mas não como antigamente. Estes, usando roupas consideradas “femininas”, questionando o gênero, ressaltam uma outra discussão além do racismo.


Dentro do Hip Hop as vestimentas variam. Existem rappers que projetam sua imagem de ambição na extravagância e no luxo, reafirmando o seu sucesso consolidado. Mas também existem aqueles que preferem um estilo mais minimalista que, apesar de trazer pouco, é grandemente enviesado nos problemas sociais que abordam em suas obras. Kendrick Lamar, por exemplo, marca sua moda que, com o estilo mais minimalista, é repleto de estilo e atitude.


Já a cantora Cardi B, um exemplo mais contemporâneo dentre mil referências do movimento artístico. A rapper opta por montagens chamativas e cheias de cores vibrantes, casacos de pele transbordantes, jóias e acessórios que cegam os olhos. Sem passar despercebida, seja pelo seu jeito marcante, suas roupas ou sua música inconfundível.

Ainda assim, é predominante ver moletons, calças e camisetas mais largas no estilo esportivo, assim como os tênis. Somando as influências do grafite, a vivacidade de cores e, assim, estampas gritantes. O maior reconhecimento vem da famosa série de TV, “Um Maluco no Pedaço” (1990) estreada pelo icônico Will Smith.


A grande influência do Hip Hop, seja ela na música, no grafite, na dança e na própria moda, é de importância inquestionável. O movimento traz visibilidade para uma luta que tem origem cruel e que ressoa na atualidade com força maligna. Ao ver este estilo de uma forma tão potente e presente, no dia a dia, mostra como atinge um de seus princípios: trazer a discussão racial e transportar da rua às passarelas.

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