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Vida de Solteiro (1992)

Com muita habilidade, Cameron Crowe faz reverência a si, a seus ídolos e a um lugar especial com bagagem musical, trazendo leveza e descontração ao retrato



Antes de ser jornalista, e antes de ser cineasta, Cameron Crowe era, sempre foi, é, e sempre será um aficcionado. Por seus ídolos, por suas bandas preferidas, diretores dos quais gosta e filmes que viu e reviu em diversas ocasiões. Ele é o tipo de cara que fazia mixtapes, ou, então, o tipo de cara para quem você faria mixtapes.


Até porque, ele mesmo foi, se não atuante, ou responsável diretamente pela maneira com a qual a música chegava aos ouvidos alheios, um agente infiltrado nos bastidores do cenário da vida de um rockstar, ou de qualquer um que quisesse, nem que por alguns minutos, brincar de ser. Ele teve oportunidades como repórter e posteriormente até cobriu a própria carreira em um filme de sua autoria, o hoje aclamado “Quase Famosos”. Um feito raro, sem dúvidas, que exige um conhecimento de sua trajetória e de seus limites.



Acho que já deu para entender onde eu queria chegar. É só pensar na concepção de seu charmoso, mas muitas vezes excessivamente seguro “Vida de Solteiro”, uma espécie de prévia de “Friends”, em uma versão cinematográfica que se passa em Seattle, sobre a vida de uma série de pessoas (a maioria, pasmem, vizinhos) com histórias em comum de encontros e desencontros servindo de suporte para uma trilha sonora que captava a essência da Era Grunge.


O filme faz uso de frases de caráter e conteúdo duvidosos (“Vivo minha vida como um filme francês” ou “Se eu conversasse com Deus, pediria para criar essa garota”) proferidas por personagens que realmente se sentem diferentes e especiais por isso. Felizmente, esses clichês, e a síndrome de "jovem adulto alternativo incompreendido", são salvos por participações divertidíssimas de Chris Cornell, Eddie Vedder (e outros participantes do Pearl Jam) e Tim Burton, em um dos momentos mais legais do filme.


Destaque também para um aéreo Matt Dillon, uma ponta de Bill Pullman exercendo o nível esperado de comprometimento dele com a interpretação de caras bonzinhos e a ótima Bridget Fonda, sempre deixando sua parcela de contribuição na filmografia de muitos diretores e/ou diretoras durante os anos 90, além de Kyra Sedgwick e Campbell Scott, como o casal principal.



Se Cameron Crowe não é exatamente um bom diretor por características técnicas, ele usa a intuição, o gosto musical construído ao longo de décadas (fruto de uma veia jornalística de investigação e pesquisa com a qual me identifico muito) e o conhecimento cultural para atrair os céticos e relutantes com seus projetos.


No fim das contas, o saldo é que você verá todos os seus filmes querendo correr para o Spotify ou para o YouTube para ouvir a trilha sonora até seus ouvidos cansarem, até você se tornar um simulacro de sua versão mais nova ouvindo em loop os mesmos artistas e se encantando por eles de diferentes maneiras.


Nota do crítico:


Para mais críticas, artigos, listas e outros conteúdos de cinema fique ligado na Cine-Stylo, a coluna de cinema da Singular. Clique na imagem abaixo para ver mais do trabalho do autor:


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