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SOL (2022) | Heranças emocionais

Novo filme de Lô Politi é uma viagem seca por rancores e abandonos que leva a uma esperança de fazer tudo diferente



A jornada de conexões emocionais que passa pelos traumas familiares é extremamente utilizada no cinema. Assim, a fórmula que Lô Politi trabalha é até um tanto batida, o homem que tenta se conectar com a filha, com quem tem pouco contato, é obrigado a enfrentar mágoas passadas e conviver com o pai, que o abandonou quando criança. Mas, a diretora atrela a forma como retrata as emoções ao cenário que os acompanha, a viagem pelo interior da Bahia é árida, sem vida e cheia de poeira, assim como a dinâmica entre as três gerações, algo que a princípio pode dificultar a criação de um vínculo mas se prova mais emocionante do que parecia ser.


Tudo é muito duro entre Theo (Rômulo Braga) e o pai, um idoso debilitado que pouco fala, criando uma relação que não se preocupa em se redimir ou olhar para trás e reconstruir traumas passados, o que foi vivido jamais será esquecido e retorna aos poucos à mente do homem, que reconstrói suas lembranças quando se depara com pedaços de uma vida há muito tempo esquecida. Para Duda (Malu Landim) fica o papel de ser o alívio dessa tensão, que se conecta com o novo avô ao mesmo tempo que intensifica seu laço com o pai. São claros os paralelos traçados pela diretora ao olhar carinhosamente para os cuidados de Theo com a filha, mostrando que ainda que tenha uma relação distante com Duda, o homem é um pai presente e preocupado com seu papel na vida da menina.



Há, além da necessidade em retratar o pai como alguém cuidadoso, uma forma sutil de mostrar a aceitação dele com as escolhas de Duda, em um primeiro momento questionando identidades em uma conversa sobre nomes e em outros momentos dando espaço para a menina escolher coisas que fazem parte de sua personalidade, ainda em construção, mesmo que sejam contra os gostos da mãe. Lô Politi não força esse homem como alguém que quer se mostrar um bom pai, mas consegue retratar legitimamente uma pessoa investida em fazer essa relação dar certo, fazendo assim a história de SOL ser muito mais sobre esses dois, usando o avô como algo a ser atravessado apenas.


Ao longo da viagem a história parece levar a um caminho óbvio de redenção, talvez até de perdão, aumentando o carinho entre a neta e o avô e apontando para as conexões que fazem pai e filho pessoas parecidas, ainda que tão distantes - o lado artístico de ambos, por exemplo. Mas, se mantém num lugar em que não há nada a ser dito entre essas pessoas, não há desculpas ou formas de se explicar, e toda e qualquer resposta que Theo busque para ficar em paz com a herança emocional deixada pelo pai ausente está apenas dentro dele.


É do amor de Duda que vem uma esperança nova para Theo, as lembranças no rio com o pai, a vontade de estar sempre zelando pela filha e o carinho que a menina cria por essa relação durante a viagem, abrem espaço para uma página em branco, a chance de viver uma nova história e fazer com ela tudo diferente, tudo que não teve com seu próprio pai e se livrar de tantos sentimentos ruins, nutridos por décadas de ressentimentos. É algo bem simples, uma rotina criada entre pai e filha, construída aos poucos, que ganha força amarrando bem tudo o que foi mostrado.


O coração de Theo, duro e seco, ganha novas cores e sentidos, a água invade a secura que o longa carrega, como uma chuva que vem para reviver um solo rachado e infértil.


Filme assistido a convite da Sinny Assessoria e Paris Filmes

SOL chega aos cinemas em 8 de dezembro.


Nota da crítica:

3/5




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