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Os Imorais (1990)

Diretor britânico de carreira eclética, Stephen Frears vai aos Estados Unidos com um elenco formado por um trio luxuoso e pretensões ambíguas



Apesar de ser produzido por Martin Scorsese e carregar com certo orgulho o seu nome nos créditos iniciais, “Os Imorais” é um filme que se vê muito mais confortável se amparando no cinema independente de então jovens cineastas da época, e também cumpre parte da cota anual noventista da Miramax, então tem uma linguagem dinâmica facilmente identificável.

Como em “Gosto de Sangue”, dos irmãos Coen, as relações coexistem no mesmo círculo social, e esse é um pequeno conto, assim como tende a ser os filmes deles, sobre cobiça e excesso de autoconfiança, que, se não termina em tragédia, abala, com bastante acidez e perspicácia, as crenças individuais que ditam os planos de quem quer sempre ser mais esperto, e agir mais rápido, do que a pessoa ao lado.

Nas atuações, John Cusack, Annette Bening e Anjelica Houston dão a impressão de que o entendimento entre eles, através do que se vê, só é tão desarticulado, tão desencontrado, porque o timing no set era ótimo. Pelo menos é isso o que transparece, uma noção de que, ainda que as decisões fossem tomadas pelo diretor Stephen Frears, os atores, no auge do estrelato e já com certa bagagem (mesmo Cusack, mais novo, vinha de uma carreira de muito sucesso entre o público jovem na década de 80, e queria se firmar em novos papeis) vendiam o produto e até a mensagem que o filme queria passar simplesmente por estarem presentes nos pôsteres, esbanjando luxo e sintonia.



O filme adota um tom farsesco que coloca sempre um ponto de interrogação enorme na cabeça do espectador, e acaba sendo difícil também descobrir qual é a real intenção de cada fala, de cada gesto de cada ação. A trapaça, o trambique, não orienta só o estilo de vida daquelas pessoas, mas a própria comunicação truncada, que sempre se mantém com um enorme grau de cinismo e com uma necessidade de um grande tempo de absorção.

Como era muito comum em obras do tipo lançadas naquele período, rios de dinheiro são escondidos não só em malas ou bolsas, mas também no fundo do porta-malas dos carros. É, e sempre foi, muito fácil basear o mote de uma história em cédulas, e estampar no rosto das personagens uma ambição que quase salta da tela. Não é preciso muito recurso financeiro para mostrar como as pessoas se corrompem. O elenco com certeza ajuda muito a passar uma auto-estima elevada reduzida à desconfiança de que algo, ou tudo, dará errado.


Nota do crítico:


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