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Os Corvos de Isadora

Tão negros quanto a noite, os corvos são criaturas extremamente misteriosas e nada explica a conexão além vida que Isadora tem com eles.

O dia começava quando os sinos tocavam. Pelo menos era assim que o dia de Isadora começava desde a última década. Com os sinos de bicicleta soando do lado de fora da sua janela todos os dias. Ela achou que os corvos demorariam algum tempo para aprender a usar a sino, mas levou somente uma semana, logo depois que ela instalou-o para que eles descobrissem como funcionava. Não tocava somente de dia, tocava algumas vezes ao decorrer do dia. Os corvos eram pontuais entretanto, funcionavam quase como um calendário.


Ela se apressou para fora da cama. A manhã trazia uma brisa gelada a essa hora, mas era melhor acordar agora antes que os pássaros esfomeados do lado de fora se rebelassem. Eles costumavam ser pacientes, nunca havia acontecido nada demais, só eram barulhentos, e causavam o maior caos com seus gritos. A rotina não era de todo ruim. Mesmo preferindo a noite, acordar cedo tinha suas vantagens. Depois que ela levantava e alimentava seus amigos, ela podia aproveitar a manhã para se exercitar antes da escola. Sua família demorava mais um pouco para se levantar, apesar de geralmente acordarem todos no mesmo horário, era impossível dormir quando os corvos chegavam.


Isadora saiu de pijama, carregando uma bandeja com frutas e alguns restos da última refeição da família. Havia cerca de dez corvos no jardim, além de outras espécies menores, o que tornava os tons da paisagem mais escuro, e dava a sensação de filme de terror. Se não fosse seu costume desde a infância, ela com certeza se consideraria numa história de terror, afinal, existe alguma história com corvos que não seja assustadora? Chegava a ser irônico se alguém perguntasse qual era seu filme favorito, ela provavelmente diria “Os Pássaros” de Alfred Hitchcock, apesar de saber que as negras criaturas eram tão próximas a ela, mais do que qualquer pessoa jamais seria.


As estações de comida e água instaladas nos jardins do fundo da casa estavam sempre cheias e funcionando, afinal, os corvos não eram os únicos que apareciam por lá, mas eram de longe os mais especiais porque levavam “presentes”. Conforme os bicos se enchiam, ela decidiu checar o que eles deixaram para ela. Perto do sino da bicicleta, seu pai havia colocado uma cesta de madeira não trabalhada, de modo que os presentes que eles deixavam pudessem ficar em um lugar só. Mais um truque que eles rapidamente aprenderam. Pequenas pedras, conchas, objetos brilhantes e, não tão raro quanto Isa gostaria, até pequenos animais e insetos mortos.


O calor da casa pareceu mais agradável, então deixou seus amigos à vontade e entrou, seguindo de volta para seu quarto. A cama convidativa ainda estava morna e tão confortável que ela considerou dormir mais um pouco antes da aula. Olhou o celular por mensagens e não viu nenhuma notificação que precisasse de atenção, então virou para o lado e soltou o aparelho no móvel ao lado da cama. Os cobertores e o colchão se moldaram ao seu corpo e o frio da brisa externa foi dando lugar ao seu próprio calor que se mantinha no ambiente fechado e ia deixando tudo mais macio e mais confortável. Isadora fechou os olhos e deixou todas as sensações lhe embalarem como uma canção de ninar, sentia como se afundasse em uma nuvem, imaginando se era assim que os pássaros se sentiam quando voavam.


Gritos. Altos e roucos. Pouco depois surgiam bicadas furiosas contra a janela. Por mais que os quase rosnados fizessem parte constante do dia da menina, ouvi-los perto da sua janela e o agudo do bico contra o vidro poderia fazer qualquer um enlouquecer. Ela levantou com o susto e quase caiu em seguida, de tão enroscada que estava no conforto, só para ver que o gato do irmão, Salém, estava preguiçoso e debochadamente deitado na frente da janela, tomando sol. A teoria de Isa era que as aves achavam que o felino preto fazia parte de seu assassinato e, sabendo que não poderiam entrar, tinham , como a menina costumava dizer, boas maneiras. Salém, por outro lado, via graça em perturbar as aves e por diversas vezes fazia algo. Nessas situações o mais fácil era esconde-lo até que os corvos tivessem voado para descansar em outro lugar.


Assim, Isa fez. Jogando o gato em seu lugar quente na cama, sem muita resistência, decidiu se arrumar para a escola. O tempo havia passado enquanto pegava no sono, muito mais do que ela gostaria que tivesse passado. Os pais já haviam levantado também e em pouco tempo eles já estariam apressando ela e o irmão para irem para a aula. O mais novo conseguia ser ainda mais preguiçoso que o felino que já cochilava.


A escolha de roupas foi simples, diferente dos pássaros ela não costumava ser tão monocromática, mas teria que se agasalhar bem, o frio que fazia de manhã se repetiria de noite e os planos do dia incluíam passar no aviário depois da escola, o que custaria a ela um passeio no final da tarde. A maioria das aves que estavam no aviário eram corujas e pássaros pequenos, até filhotes que caíram do ninho ou foram rejeitados e separados das famílias. Em todos os anos que Isa se voluntariou, nunca tinha aparecido um corvo resgatado.

Não havia mais sinal dos corvos a essa hora, só aves menores que aproveitavam as sobras. A família se organizava para sair, enquanto os pais seguiam para o trabalho, Isa ficou a esperar o irmão atrasado terminar de se trocar e ficou olhando os presentes daquele dia. Ela havia largado eles na bancada da cozinha quando entrou mais cedo. Eram pedras como o costume, pedaços de plástico, que foram devidamente descartados, e uma chave. Seria fascinante encontrar a sua fechadura.


Logo que saíram, ela e o irmão discutiram sobre o que fazer em relação à chave. Decidiram cuidar dela enquanto procuravam o dono, afinal não sabiam a importância do objeto. Isa queria se livrar o mais rápido possível, mas seu irmão tinha um interesse pelo pedaço de metal lapidado que ela não entendeu. Durante uma parte do caminho, eles inventaram histórias sobre o que aquela chave guardava, animados com as possibilidades. O objeto passou tantas vezes pela mão de Isa ao longo do dia. Ela corria os dedos por cima das suas pontas e linhas, como se fosse um labirinto a ser desvendado. Ficou extremamente ciumenta com a chave, não deixou mais ninguém encostar nela.


As aves do aviário pareciam estar calmas no período que a menina ficou lá. Não havia muito o que se fazer em dias como aquele, nublado e sem novos resgates, ela acabou por alimentar os filhotes e os pássaros menores que estavam em recuperação. Não era sua tarefa preferida, porém caia bem com o clima do dia e a deixava mais livre para pensar na chave e menos sobre aves grandes. O expediente durou pouco, a maioria das tarefas tinham sido realizadas de manhã ou seriam feitas ao anoitecer e Isa não teve o menor interesse de ficar depois que escurecia, tinha outros planos.


Andou até o ponto de ônibus esperando que esse não demorasse. Escurecia rápido e o frio retornava como ela tinha previsto. Por sorte o ônibus não demorou e ela agradeceu pelo calor dentro dele como tinha agradecido de manhã entre as cobertas. E foi o que fez quando chegou em casa, não demorou no banho ou se estendeu em assuntos durante o jantar, queria sua cama de novo. O irmão concordou em alimentar e checar os corvos de noite para que ela pudesse descansar.


Naquela noite Isa dormiu tão pesadamente que se quer sentiu Salém chegando na madrugada para ficar na ponta de sua cama sentado. O gato ia crescendo à medida que a escuridão da noite se aprofundava. Quando o sol nasceu a campainha não tocou. Não houveram corvejos agressivos de quando Salém chegava da madrugada pelo mundo afora. Acordou com os miados do gato e a pata em seu rosto. Por dias a fio, a quantidade de corvos que iam às estações diminuiu, sem qualquer motivo para isso. Os dias continuavam, no entanto, sem os poucos corvos que sabiam tocar a campainha. A presença deles se esvaiu até que, após uma semana, não havia mais nenhum. O jardim permanecia colorido, mas apenas com os pássaros menores que vinham aproveitar a falta de competição.


Os dias corriam como cópias um dos outros. O tempo parecia parado, sem o preto das asas, sem mudanças avoadas, sem novidades no céu, sem nada além da claridade do dia seguinte. As próprias aves do aviário permaneciam quietas e, mesmo as maiores que assustavam a menina, pareciam ter se tornado pacíficas. Os filhotes comiam, mas piando baixo, como se o som que produziam fosse algum tipo de alarme que não podia ser escutado. O próprio Salém ficou, dormiu durante as noites, sem sair e nem perseguir os pequenos animais que iam comer e descansar. Estranho como dias tão normais poderiam assombrar a Isadora.


Obcecada com a falta de seus companheiros, a menina começou a espalhar panfletos e anúncios onde quer que aceitassem procurar por eles. Procurou nos parques, e até ficou mais tempo que o esperado no aviário, com a esperança de que alguém ligasse avisando que os corvos haviam voltado. Nada fazia sentido, nem um único filhote tinha ficado para trás. As manhãs no jardim ficaram claras demais, sem algum presente novo em sua cesta, e o sino da bicicleta não soava mais. Por dias fez sol, por dias fez chuva, e ela se esqueceu de tudo ao seu redor que não fosse relacionado aos seus amigos. Era tão focada em encontrar suas aves que não sentia nada mais do que o vazio da saudade, e o frio da amargura.


Já não fazia questão de mais nada, até chegou a ir nos cemitérios durante a noite, como se, nas mais calmas e escuras horas, os corvos ainda se reunissem para esconder os vestígios de sua existência. Nada mais alegrava a garota, somente Salém parecia ainda ter algum tipo de poder reconfortante em sua cor e em seus hábitos noturnos.


Nessa realidade afastada e particular foi que, ao voltar para casa do aviário, Isadora sentiu de novo o vazio, o mesmo vazio que dizia que perdera algo importante. Foi como um estalo em sua cabeça. Ela parou no meio do caminho até o ponto de ônibus. Sabia da notícia antes de seus pais telefonarem, parecia óbvio para ela. Por mais que a dor de perder seus corvos fosse forte, possivelmente porque foi uma perda devagar, essa, que era como arrancar o curativo, não doía menos. Sua cabeça poderia até encontrar mais sentido agora, ainda assim seu corpo estava oco, leve e vazio. Dessa vez seu irmão sumiu no amanhecer.


Tudo se tornou silêncio então. Era quase como a parte da madrugada que antecede a chegada do sol, a tão conhecida, hora mais gelada do dia. Porém o sol não chegou, tudo continuou frio e quieto, na mesma hora em que os animais noturnos trocavam de turno, indo finalmente descansar, e os primeiros sinais de vida matutina apareciam. Isadora sentia somente a brisa gelada da madrugada e escutava nada porém sua própria existência.


Na noite que se aproximava do aniversário de um mês do desaparecimento completo dos corvos, quase duas semanas após seu irmão ter fugido pelo que declarava à polícia, Isadora acordou com os miados de Salém no meio da noite. Ficou preocupada com a janela estar aberta, como se qualquer criatura pudesse entrar, como o vento fazia. Ela não tinha esquecido aberta, sentia que aquilo estava errado, entretanto estava assim desde que Salém não tinha mais problemas com os corvos para entrar e sair.


A menina, que agora carregava a chave em um colar no pescoço, com medo, ficou observando pela janela. Viu o frio da noite tão denso quanto a névoa e os animais que agora vinham à estação, já que seus amigos não passavam mais por lá. Seus olhos se prenderam na silhueta do gato preto parado em cima da estação de comida, encarando com as pupilas dilatadas e hipnotizantes. Eles estavam distantes agora, pareciam tão perto e tão íntimos quanto ela fora com seus corvos e seu irmão. Depois disso, Isa passou a trancar sua janela e não permitir que o bichano dormisse em sua cama, sentia um extremo incômodo com a figura esguia que a observava. Passou pela sua cabeça que Salém tinha espantado os corvos.


Algumas noites depois que a garota começou a se isolar ainda mais nas suas madrugadas, seu som reconfortante a tirou da cama durante uma delas. Por mais uma virada de dia ela pode observar o gato na mesma posição, debaixo da luz da lua, com a sua forma elegante. Dessa vez o sino a fez crer que poderia ir ao jardim, não teria qualquer tipo de perigo contanto que seus amigos estivessem ali.


O barulho da estação de água trabalhando dava ao ambiente música de fundo, que se juntava ao som das patas que corriam de um lado para o outro, as caudas que rastejavam atrás de seus corpos e as presenças pequenas perdidas pelo preto do gato. Isadora fechou a porta da casa atrás de si e andou em direção ao felino, tentando encontrar entre as estrelas no céu quem tinha chamado ela, a grama molhada de orvalho e a terra que grudava entre seus dedos não parecia despertar a garota do transe entre a escuridão e os olhos quase tão cheios quanto a lua acima de sua cabeça. Não havia um par de asas nem bico amigo ali. Adentrou o jardim com a teimosia que ainda tinha em si.


Ela parou na frente da estação e abaixou, encarando Salém nos olhos, esperando enxergar neles algum tipo de resposta para as várias perguntas que tinha. Os arcos de cores que circulavam nas pupilas pretas sumiram conforme o animal à sua frente piscava. Nada mais separava o breu e Salém, nada mais estava entre Isadora e a noite, nada mais havia do que puro e eterno preto onde quer que ela olhasse. Tanto não havia, como nada havia na menina, que podia sentir suas extremidades se juntarem à condenação que a cercava.


Foi quando viu a temida criatura se erguer, onde antes estava sua companhia, que ela sentiu a chave gelada, que sem nem mesmo ver, podia sentir a cor da nova presença juntando-se a sua própria, que por vez juntava-se da cor do profundo momento, e só então a pergunta se materializou, e se ela não entregasse a chave? O ser a frente dela a encarou, e mesmo que não conseguisse distinguir o que, quem, a forma que estava ali, Isadora tinha uma certeza, nunca entregaria a chave a ela. Pode sentir a figura crescendo ao escuro, se esticando em sua direção, vendo a silhueta aumentar e se distorcer contra a pouca luz que seus olhos se acostumaram, tentando encontrar um meio de entender o que acontecia.


O tempo não era mais uma dimensão, os únicos seres presentes naquele momento eram os dois, presos pela similaridade do seu sangue, pela cor e pela ascendência, que em forma e em singularidade tinham só o vazio em comum. Filhos do mesmo caos, com o mesmo objetivo, destino igual, ambições também. A sua diferença era aquela, pequena, de dimensão e importância imensurável, um tinha o poder das asas e a chave, outro tinha liberdade e poderia desaparecer com a mesma facilidade que tinha feito todos esses anos. No eco entre as duas mentes a dúvida que soava era a mesma, porém se projetava de maneiras diferentes, afinal estavam em lados opostos ao mesmo tempo que cercados pelas abafadas trevas em um só borrão de existência.


“Quem é você?”


Não ouviu, não pensou, o instinto de Isadora foi o de fugir para onde poderia esperar pela manhã. No mesmo instante em que deu o primeiro passo, sentiu as garras e o bater de asas cortarem o ar. Sua garganta se fechou e ela deu o mesmo grito rouco e alto que tão habitualmente ela havia crescido ouvindo. Não tinha mais medo de pássaros maiores, nenhum deles poderia tocar mais. Levantou e olhou ao redor, enxergando dessa vez, tentando encontrar um de seus irmãos ou sentir a presença de seu rival.


O preto dominava tudo sem piedade. Sem sons, sem luz, sem calor, só ela e a chave. Sentiu o chão vibrar com os passos da criatura e o ar que se movia à sua volta. Questionou se aquilo não seria um pesadelo. Tudo o que ela precisava fazer era voltar para sua cama e aquilo acabaria. Levantou-se decidida a terminar a noite do mesmo jeito que tudo tinha começado e novamente o grito cortou o ar, dessa vez seguido de um grunhido e o chão tremeu mais uma vez, mais perto agora do que tinha estado antes. Ela precisava sair dali e rápido.


O frio da chave incomodou seu peito mais uma vez, criou coragem e arrancou o colar, não tinha mais necessidade dele. Jogou o objeto pelo ar, sem certeza de quem conseguiria pegar ele primeiro. Do mesmo modo que perdera tudo. Ela se perdia naquele instante. Não sentia mais nada, nem o que antes conhecia e amava, até o que mais temia, tudo era tão escuro e que ela questionava o que acontecia. Não havia uma só alma que ousasse fazer algum tipo de som, naquele momento, no vazio de tantas coisas, o ser que se movia ouvia sua respiração e nada mais. Mais uma vez a brisa gelada passou e dessa vez ela sentiu a liberdade que ele trazia. Não era mais uma existência de punição, ela podia sentir seus membros em liberdade, seu peito em final agonia, sabendo que logo iria poder descansar.

Seguiu sem confiança para a porta da casa, como se fosse errado entrar ali. Um passo, a grama com orvalho afundava levemente entres seus dedos descalços e podia sentir a terra por debaixo. Os braços estavam abertos, como se ela estivesse em uma corda bamba e não conseguisse se equilibrar, ainda assim mantinha um equilíbrio excepcional. Na cabeça, o medo e a adrenalina trocavam de turno para os olhos se fecharem com força e olharem o vazio com atenção. Tudo virou um borrão entre a noite, do céu escuro cobria sua pequena presença, e tudo mais que havia, se havia alguma coisa mais.


Demorou para que chegasse à porta, tentando controlar seus movimentos para que sua camuflagem no preto não desaparecesse. Ouviu o revoar de asas e sentiu a noite perder espaço para o calor de raios de sol. Amanhecia. Logo ela acordaria na cama se lembrando do pesadelo e iria para escola em mais um dia de rotina. Seria mais um dia cansativo, entretanto tinha sido uma noite pior ainda.


Não notou a dupla de corvos que pousou na estação de comida, seguidos de dois filhotes. Viu mais três chegarem e pararem na cesta antes de esperar a bandeja com comida fresca. Parada ali, no degrau antes da porta, olhando seus colegas mais uma vez, sem enxergar sinais do que tinha acontecido horas antes, se sentiu em família. Sentiu a curiosidade e a segurança que precisava para se afastar dali e tomar o que era seu por direito.


Conforme analisava o jardim, que tinha outro significado agora, notou um brilho na grama. Deu alguns passos na direção dele e contou quantos pássaros novos se juntavam. Haviam agora oito corvos, mais pássaros marrons e coloridos. A estação ficaria cheia deles uma vez que eles terminassem de comer. O objeto estava gelado como a brisa estivera, apesar disso, parecia irradiar o sol e ficou imaginando que seu irmão adoraria ver aquilo. Quando voltou para colocar na cesta, mais um corvo estava lá. Então tocou a campainha, o seu som feliz.

Esperou por pouco tempo antes que as estações estivessem cumprindo suas funções a pleno vapor. Não demorou para que seus companheiros se retirassem aos poucos, conforme saciavam sua fome e sua sede. Tudo parecia certo e olhou mais uma vez pela janela para garantir que nada pudesse entrar por ali. E lá estava ele, tão preto quanto as suas próprias penas. Seu instinto gritou e com ele suas cordas vocais. Bateu no vidro, tinha que se livrar dele, tinha que avisar para todos que ele tinha voltado para a casa. Viu os olhos negros, com as pupilas dilatadas e sabia que ele sabia, os dois se encaravam preto no preto. Então sumiu e levou consigo o resto da brisa gelada da manhã, indo de novo em direção ao conforto das nuvens.


FIM.


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