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O Beco do Pesadelo (2022)

Em seu novo lançamento, Guillermo del Toro leva o suspense noir para um ambiente místico, sobrenatural e desconhecido.



No decorrer do encerramento da Segunda Guerra Mundial, surgiu o ‘film noir’ nos Estados Unidos, um estilo ligado ao suspense policial. Muitos estudiosos consideram que esse período durou de 1940 a 1958, finalizando mais precisamente com "A Marca da Maldade'', uma das obras primas de Orson Welles. Um estilo que traz fortes questões de moralidade e a característica fotografia em preto e branco, com a linguagem das sombras. No cinema noir, há anti-heróis e, muitas vezes, o bem vence o mal. Para uns, é o filho do expressionismo alemão, carregado com pessimismo e a instabilidade moral desse homem que sofreu os horrores da guerra.


Um ponto interessante a se resgatar é que o cinema nasceu como um espetáculo de atrações. Os primeiros filmes eram expostos em vaudevilles, circos e teatros populares. Por muito tempo, não era considerado arte pelos nobres, e sim, um mero entretenimento popular. É dentro desse clima circense que a história se desenvolve. O cinema de atrações cruza com a atração no cinema. O ser humano é fascinado pelo desconhecido, pela magia e pelo sobrenatural. É natural nosso interesse por esse tipo de entretenimento, somos facilmente atraídos pela curiosidade do diferente.


Em “O Beco do Pesadelo”, Guillermo del Toro traz esse ambiente de aspecto místico para um suspense noir, sendo um remake do filme “O Beco das Almas Perdidas”, de 1947. Os filmes de Guillermo Del Toro são conhecidos pela atmosfera mágica criada, história com monstros e seres sobrenaturais. Na obra em questão, Stan (Bradley Cooper) é um misterioso homem buscando sobreviver em meio a esse caos. Pouco se sabe sobre Stan e ao decorrer do longa compreendemos suas ambições, assim como, quais segredos ele esconde.



No primeiro momento, Stan é apenas um homem que tenta sobreviver e acaba indo trabalhar como mão de obra para um circo itinerante. Lá conhece Zeena e Pete, uma vidente e um mágico, sendo aí o ponto de partida para o despertar da ambição de Stan, até então apresentado como 'bom homem'. Em meio a truques e vigaristas, sem muito conhecer Stan, nos parece um ambiente capaz de corromper o homem. Mesmo que não aconteça de forma muito impactante nesse primeiro ato, o suspense e mistério trabalhados na direção de Del Toro já são o suficiente para prender o espectador.


Nessa dialética do 'bem e mal', herança dos filmes noir, reconhecemos os personagens mais puros e de bom coração, como Molly (Rooney Mara), a boa moça que será o amor de Stan, e a figura do perigo, da mentira, como Clem (Willem Dafoe). Sendo assim, se constrói uma narrativa envolvendo ambições, mentiras e truques, preparando o espectador para uma grande expectativa no final.


O personagem de Bradley é o que nos guia nessa história, é o elo de tudo, mas Lilith Ritter, interpretada pela grandiosa Cate Blanchett, é ponto de virada e enriquecimento da história. Resgatando mais uma vez o cinema noir, um dos elementos mais importantes, e, sem dúvidas, um dos mais emblemáticos é a presença da femme fatale. Uma bela mulher escondida nas sombras que parece esconder algum segredo e servir de ameaça ao novo número de Stan Carlisle, na qual, Cate soube bem encaixar as poses, trejeitos e até entonação de femme fatales clássicas do cinema noir.



A trajetória de Stan é acompanhada por sua crescente ambição e uma aparente mudança de caráter. Inserida numa sequência de jogos na mente humana, uma questão psicológica e comportamental, é também um modo de enxergar essa perspectiva da transformação psicológica de Stan.


O clima de suspense se assemelha a filme de monstros, fato até característico de Del Toro. Quando se atenta a esse detalhe, o desfecho de "O Beco do Pesadelo" pode ser até mais enriquecedor. Dos truques apresentados no filme, o do personagem de Dafoe é o mais chocante e assustador, o mais desumano, mas também é o que mostra o lado ruim do homem.


Após o plot twist para o terceiro ato, é o que definirá a lição de moral de "O Beco do Pesadelo", a descaracterização de Stan como ser humano para a confirmação do monstro, seja ele a atração ou quem a cria. Desde modo, o filme encerra bem o ensinamento proposto remetendo bem a dualidade de bem e mal presente no cinema noir, funcionando como uma boa suspense e homenagem ao estilo.


Nota da crítica:


Para mais críticas, artigos, listas e outros conteúdos de cinema fique ligado na Cine-Stylo, a coluna de cinema da Singular.



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