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Um Gato Sonha Com o Norte

Em um conglomerado de imagens que anseiam por significado o filme se questiona entre documental e experimental



Embora o cinema experimental seja uma porta de entrada para a relação de imagem e som com o âmago do subconsciente humano, que os decupa em emoções à sua própria maneira, não é sempre que o jogo audiovisual consegue aflorar no espectador todo leque sentimental que a sétima arte carrega consigo. Um Gato Sonha Com o Norte é um exemplo pontual dessa máxima e é incapaz tanto de forçar as barreiras do cinema quanto de desenvolver uma narrativa que fisgue algum interesse.


A proposta do filme é simples, alguns estudantes de teatro sul-americanos se reúnem na casa de um mestre em Paris para desenvolver um espetáculo. Eles leem cartas, discutem a peça, transmitem conhecimento e vivem uma experiência conjunta que, apesar da premissa, é capturada de uma maneira excruciante. Embora haja um apreço pelo desenvolvimento das personagens em questão como uma comunidade, ele não encontra o espaço necessário para que operem dessa maneira.


Com uma câmera sempre fechada e desfocada, a montagem tenta transformar seu material bruto em algo substancioso, mas os planos longos não acham na rotina exótica algo que dê liga para o conglomerado de takes. Em poucos momentos, quando delega para o áudio a função de ser a ponte entre as imagens, até que consegue criar algo interessante dentro de seu constructo de união, mas joga fora esse trunfo em prol de despejar clipes sem se preocupar em como estes podem interagir com o restante do filme.


O engraçado é que depois de quase setenta minutos de desenrolar, com esse apelo claustrofóbico e indistinguível, ele se vê na necessidade de explicar para o espectador sobre o que era a obra, o que aconteceu de fato e até destrinchar seus significados. Uma escolha muito peculiar por justamente evidenciar um filme indeciso, que não acredita em seu potencial experimental ao ponto de ter de explicar sua história e que não confia o bastante nela ao ponto de conglomerar imagens e som a bel-prazer para caçar uma motivação.


Em suma, Um Gato Sonha Com o Norte não se explora e com um terreno tão fértil é, na mais sincera adjetivação, frustrante.


Nota do Crítico:


Esse texto faz parte da cobertura da Singular do 5º Festival Ecrã de Experimentações Audiovisuais. Para mais críticas clique AQUI.


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