top of page

Copacabana Mon Amour (1970) | (Des)orientando pelo caos e pela (Des)ordem

Dirigido por Rogério Sganzerla, Copacabana Mon Amour é um filme contraditório e inquieto, tanto um retrato aflitivo quanto um deboche caótico da desordem do país



Eu sempre assisti a poucos filmes brasileiros, mas isso está começando a mudar. Seja por causa do meu último ano de faculdade, que envolve mais a fundo a produção de horror nacional, ou por demandas antigas, como conhecer mais de Cinema Marginal.


Tenho visto muita produção lançada entre 1960 e o fim da década de 70, por cineastas confrontadores, que não aceitavam as coisas como eram, mas ao mesmo tempo não queriam se enquadrar na solução, sempre resistindo ao sistema e às imposições da ditadura, se recusando a se render a normas ou convenções, e, justamente por isso, tendo que lidar com o ostracismo ou o anonimato em diferentes ocasiões, sem deixar que isso importasse tanto.



Nos anos 70, mais especificamente em 1970, sete obras foram produzidas pela Belair, uma produtora de filmes do Rio de Janeiro. Idealizada e criada por Rogério Sganzerla, Júlio Bressane e Helena Ignez, tinha como lema e defesa uma identidade autoral e maior liberdade de criação. As origens do nome sempre geraram curiosidade, e esse flerte com o nonsense era um estilo de humor muito adotado pelo grupo.


Eles faziam um cinema, nas palavras do próprio Rogério Sganzerla, “anticulturalista”, e seus filmes jamais tinham pretensão de ser rotulados. Eles eram apenas feitos, do jeito que dava, sem se submeter à censura, sem nenhum tipo de apoio. Por isso, muitos deles só puderam ser vistos em boas condições muito tempo depois.


O cinema da produtora funcionava quase que de forma clandestina, às margens de tudo e todos. Eram projetos de guerrilha, e não à toa, de ontem para hoje, eu ouvi comparações, uma de um brasileiro e outra de um americano, de Sganzerla com Jean-Luc Godard e John Waters. Acho que faz sentido um pouco de cada afirmação, mas definitivamente não era uma pretensão ser comparado a qualquer pessoa.



Não tem como não apreciar o senso de humor e a noção de caos e (des)ordem que (des)orienta os filmes de Rogério Sganzerla desse período, como é o caso desse “Copacabana Mon Amour”. Tem gente se descabelando, gente gritando, gente profetizando sobre o futuro, mas sempre prevalece a presença da música. Sua obra limita qualquer explicação. É filme de horror, das mazelas do país; Mas tem um grande senso de humor.


O filme é feito de contradições: os discursos são ora proféticos, ora totalmente irônicos e esculachados. A trilha sonora, de Gilberto Gil, dita o ritmo das ações. Por mais que tenha muito caos e barulho, também há muita musicalidade, e diversidade cultural, além de um clima inerente de "fim de mundo", como se aquele Rio de Janeiro fosse real, mas ao mesmo tempo distópico, e o sol, a fome e a miséria sugassem a energia vital das pessoas.


Nota do crítico:


Para mais críticas, artigos, listas e outros conteúdos de cinema fique ligado na Cine-Stylo, a coluna de cinema da Singular. Clique na imagem abaixo para ver mais do trabalho do autor:




bottom of page